terça-feira, abril 20, 2010

A polêmica "King Kong" de Gentili e a questão das raças

Recebi o texto abaixo via e-mail, enviado por uma amiga, a publicitária Mônica Luz. Achei os pensamentos do autor tão alinhados com os meus, que tive que publicá-lo. Segue...

Por Wagner Azevedo
O humorista Danilo Gentili postou a seguinte piada no seu twitter: "King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"
A ONG Afrobras se posicionou contra: "Nos próximos dias devemos fazer uma carta de repúdio. Estamos avaliando ainda uma representação criminal", diz José Vicente, presidente da ONG. "Isso foi indevido, inoportuno, de mau gosto e desrespeitoso. Desrespeitou todos os negros brasileiros e também a democracia. Democracia é você agir com responsabilidade" , avalia Vicente.
Alguns minutos após escrever seu primeiro "twitter" sobre King Kong, Gentili tentou se justificar no microblog: "Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?" (GENIAL) "Na piada do King Kong, não disse a cor do jogador. Disse que a loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeça de vocês é que têm preconceito."
Mas, calma! Essa não foi a tal resposta genial, e sim ESTA:
"Se você me disser que é da raça negra, preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra, pois, se todas as raças são iguais, então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?
Quem propagou a ideia que "negro" é uma raça foram os escravagistas. Eles usaram isso como desculpa para vender os pretos como escravos: "Podemos tratá-los como animais, afinal eles são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra".
Então quando vejo um cara dizendo que tem orgulho de ser da raça negra, eu juro que nem me passa pela cabeça chamá-lo de macaco, mas sim de burro.
Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de v***** e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados. Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado. E isso pra mim não faz sentido. Qual o preconceito com o macaco? Imagina no zoológico como o macaco não deve se sentir triste quando ouve os outros animais comentando:
- O macaco é o pior de todos. Quando um humano se xinga de burro ou elefante dão risada. Mas quando xingam de macaco vão presos. Ser macaco é uma coisa terrível. Graças a Deus não somos macacos.
Prefiro ser chamado de macaco a ser chamado de girafa. Peça a um cientista que faça um teste de Q.I. com uma girafa e com um macaco. Veja quem tira a maior nota.
Quando queremos muito ofender e atacar alguém, por motivos desconhecidos, não xingamos diretamente a pessoa, e sim a mãe dela. Posso afirmar aqui então que Darwin foi o maior racista da história por dizer que eu vim do macaco? Mas o que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo "preto" pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: "Branco, Amarelo, Vermelho, Negro"?. O Darth Vader pra mim é negro. Mas o Bill Cosby, Richard Pryor e Eddie Murphy que inspiram meu trabalho, não.
Mas se gostam tanto assim do termo negro, ok, eu uso, não vejo problemas. No fim das contas, é só uma palavra. E embora o dicionário seja um dos livros mais vendidos do mundo, penso que palavras não definem muitas coisas e sim atitudes.
Digo isso porque a patrulha do politicamente correto é tão imbecil e superficial que tenho absoluta certeza que serei censurado se um dia escutarem eu dizer: "E aí seu PRETO, senta aqui e toma uma comigo!". Porém, se eu usar o tom correto e a postura certa ao dizer "Desculpe meu querido, mas já que é um afro-descendente, é melhor evitar sentar aqui.
Mas eu arrumo uma outra mesa muito mais bonita pra você!" Sei que receberei elogios dessas mesmas pessoas; afinal eu usei os termos politicamente corretos e não a palavra "preto" ou "macaco", que são
palavras tão horríveis.
Os politicamente corretos acham que são como o Superman, o cara dotado de dons superiores, que vai defender os fracos, oprimidos e impotentes. E acredite: isso é racismo, pois transmite a ideia de superioridade que essas pessoas sentem de si em relação aos seus "defendidos" .
Agora peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só porque eu sou branco que eu escravizei um preto. Eu juro que nunca fiz nada parecido com isso, nem mesmo em pensamento. Não tenham esse preconceito comigo. Na verdade, sou ítalo-descendente. Italianos não escravizaram africanos no Brasil. Vieram pra cá e, assim como os pretos, trabalharam na lavoura. A diferença é que Escrava Isaura fez mais sucesso que Terra Nostra.
Ok. O que acabei de dizer foi uma piada de mau gosto porque eu não disse nela como os pretos sofreram mais que os italianos. Ok. Eu sei que os negros sofreram mais que qualquer raça no Brasil. Foram chicoteados. Torturados. Foi algo tão desumano que só um ser humano seria capaz de fazer igual. Brancos caçaram negros como animais. Mas também os compraram de outros negros. Sim. Ser dono de escravo nunca foi privilégio caucasiano, e sim da sociedade dominante. Na África, uma tribo vencedora escravizava a outra e as vendia para os brancos sujos.
Lembra que eu disse que era ítalo-descendente? Então. Os italianos podem nunca ter escravizados os pretos, mas os romanos escravizaram os judeus. E eles já se vingaram de mim com juros e correção monetária, pois já fui escravo durante anos de um carnê das Casas Bahia.
Se é engraçado piada de gay e gordo, por que não é a de preto? Porque foram escravos no passado hoje são café-com-leite no mundo do humor? É isso? Eu posso fazer a piada com gay só porque seus ancestrais
nunca foram escravos? Pense bem, talvez o gay na infância também tenha sofrido abusos de alguém mais velho com o chicote.
Se você acha que vai impor respeito me obrigando a usar o termo "negro" ou "afro-descendente" , tudo bem, eu posso fazer isso só pra agradar. Na minha cabeça, você será apenas preto e eu, branco, da mesma raça - a raça humana. E você nunca me verá por aí com uma camiseta escrita "100% humano", pois não tenho orgulho nenhum de ser dessa raça que discute coisas idiotas de uma forma superficial e discrimina o próprio irmão."

domingo, abril 18, 2010

Rio de Abril!

A chuva que quase fez o Rio de Janeiro virar Rio de Abril, arregalou os nossos olhos para o óbvio, para uma situação que era gritante, mas só mesmo após uma "pequena" intervenção divina e algumas centenas de vítimas pudemos realmente ver. Sabe aquela história de tô olhando mas não tô vendo? Pois era o que acontecia com o Rio. Era mesmo necessário um dilúvio para que o Rio fosse "desfavelizado"? Era necessário aquele mar de tragédias para que o povo e os governantes enxergassem que o Rio urgia por uma política de moradia séria? E o pior que nem podemos mesmo dizer que foi uma "intervenção divina", digamos que foi só "meia", pois a causa de tudo isso foi pura intervenção humana.
A ocupação dos morros (e olha que no Rio morro é o que não falta) é irresponsável e absurda. A coisa estava (ou está, pois só vou acreditar numa mudança quando ela de fato acontecer) totalmente sem freio. E não me refiro apenas aos "favelados", mas também à classe média alta e rica. É claro que a maioria dos deslizamentos ocorreram nas comunidades. A maioria das vítimas fatais foi registrada entre a população carente, mas não foram poucas, também, as notícias de donos de casarões com piscina, de famosos, que foram vítimas dos barrancos. A galera quer ter uma vida "ecologicamente correta", construindo suas mansões em locais "politicamente incorretos". Desmatam um pedaço de mata, se instalam lá se achando o próprio Robson Crusoe, e depois reclamam de quê? Esses, pior do que aqueles que não têm muita opção, podem pagar um bom engenheiro, podem escolher locais mais adequados.
Quanto aos "favelados", se tivessem acesso a planos de moradias mais acessíveis, oferecidos pelo governo, tal como há em São Paulo; ou o governo mantivesse o programa "favela bairro" iniciado pela gestão anterior, onde era realizada a reurbanização das comunidades, uma planejamento das construções, recolhimento de lixo decente, entre outras coisas; ou mesmo se as comunidades fossem orientadas por engenheiros oferecidos pelo governo a fazerem suas construções de forma correta; talvez - repito - taaalvez, muitos desmoronamentos tivessem sido evitados.
A questão do lixo também é relevante, mas aí entra uma outra história que seria mais uma batata-quente no colo dos governantes: a educação. Há, por acaso, uma campanha forte e decente de conscientização das pessoas a esse respeito? As crianças são, desde cedo, "treinadas" na escola a serem cidadãos conscientes? Que nada! Não aprendem nem o básico do B-A-Bá direito, quanto mais "Cidadania". E, voltando à questão dos favelados, onde aquele povo, que mora lá naquela altura, onde ninguém nunca viu a coleta de lixo passar (a não ser o gari que mora ali e sai pra trabalhar fora da comunidade) vai fazer com os resíduos que produzem? Criam seus próprios lixões nos terrenos baldios nos altos dos morros ou jogam ali mesmo nos córregos a céu aberto e pronto, resolvem a questão. E fazem isso de forma ignorante, no sentido de "ignorar" as consequências de suas atitudes. Eles querem se livrar do lixo e se livram do jeito que acham mais prático, "criando" essa praticidade. Simples assim.
Ou seja, culpo o governo, sim, no quesito população carente. E culpo a população mais culta e com uma renda melhor, sim, que age de forma burra, jogando seu lixo na rua, não participando das campanhas de reciclagens ou não introduzindo-as em seus prédios, condomínios e casas, entre outras cositas mais. No caso da reciclagem até dá pra dar uma pedradinha no governo também, pois não há um incentivo para que cooperadoras possam e queiram atuar no Estado.
Portanto, fazendo as contas, tem culpa pra todo mundo, mas a maior de todas vai pros governantes, esses e os outros que já se foram: prefeitos e governadores. Ninguém fez nada até então. E eu diria até que continuariam sem fazer algo que preste, caso não estivesse na programação a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Esses eventos vieram de uma forma providencial. Eles servirão como uma espécie de pressionadores de resultados. Aliás, as tragédias que lá aconteceram só tiveram a repercussão mundial que tiveram, por estes motivos. O mundo está com os olhos voltados para nós. Outro fator que ajudará muito também são as Eleições. Ou seja, eles VÃO ter que fazer algo direito. Não vai dar pra ser só de fachada. Vai que cai outro dilúvio? A não ser que voltem seus esforços para alterar a meteorologia até 2016. Coisa que eu acho difícil. Até lá, muita água vai passar por esse rio (fiz um trocadilho galera - água, Rio... hãn, hãn!)
E, por enquanto, é tudo o que tenho a dizer sobre isso.