sábado, maio 28, 2016

Ah, como eu lamento...


Para não ser injusta com a jovem Ana Beatriz, que morreu aos 16 anos assassinada, aqui no Rio, por bandidos iguais aqueles com os quais a menina que foi abusada sexualmente mantinha amizade desde os 13 anos, deixo aqui minha mensagem de lamento.

Lamento por ver nossos jovens escorrendo pelos dedos. Sejam aqueles que fazem a escolha certa, como aqueles que procuram o caminho errado.
Lamento porque Ana Beatriz com um futuro tão brilhante pela frente, tenha ido de forma tão brutal.
Lamento porque a outra, que nem sei o nome, não tenha tido nem um passado brilhante, quiçá um futuro.
Lamento porque Ana Beatriz não pôde colher os bons frutos das boas sementes que cultivou.
Lamento porque a jovem que escolheu o tráfico como referência de vida ainda tenha tantos espinhos para colher.
Lamento porque Ana Beatriz não chegou a gerar filhos para servir de exemplo e contar-lhes suas histórias.
Lamento que o filho de 3 anos da jovem traficante, já tenha tantas histórias ruins guardadas dentro dele sobre aquela que o gerou.
Lamento que Ana Beatriz, com tanta vida, tenha encontrado a morte tão cedo.
Lamento que a outra, tão cedo, tenha encontrado a morte em vida.
Lamento pelas duas, sim, porque são vidas, porque sou mãe, porque sou mulher, porque sou humana, porque já tive 16 anos, porque já tive que fazer escolhas nesta idade e porque eu gostaria que as escolhas da garota "dos 30" que comoveu o mundo tivessem sido as mesmas de Ana Beatriz, assim como queria que Ana Beatriz tivesse sobrevivido àquela violência, como a outra, e que, hoje, estivesse aqui lamentando conosco o que ocorreu com a jovem que teria a mesma idade que ela.
Lamento porque a violência cometida contra Ana Beatriz já seja tão banal que nem provoque uma comoção mundial.
Só não lamento mais porque acredito que a vida segue o fluxo, que tudo acontece como tem que acontecer, por mais que não entendamos, por mais que não aceitemos.
Ana Beatriz, certamente deixou um vazio entre familiares e amigos, mas onde estiver, está bem. Aqui fica o meu triste ADEUS.
Quanto à outra menina, espero que aproveite a chance que a vida está lhe dando, mude o rumo e preencha o seu vazio com escolhas melhores. Pra você há tempo, HÁ DEUS!

sexta-feira, maio 27, 2016

Estupro é estupro! Em qualquer lugar, com quem quer que seja

Imagine a seguinte situação: uma menina de 16 anos, está numa festa de universitários, bebe até não saber mais quem é ou onde está. Num dado momento na noite, ela resolve gritar que quer "dar pra geral". Que venham 30, 50... Os caras em volta, ao ouvirem a proposta da menina cambaleante, o que deveriam fazer?

A. ( ) Atender ao desejo da garota, afinal, ela pediu.
B. ( ) Rir ou criticá-la sobre a atitude deplorável, deixando que se vire com a própria bebedeira e as escolhas que fez. E se acontecer alguma coisa, foi merecido
C. ( ) Ao ver um grupo se empolgar e se aproximar da garota, se adianta para tirá-la de lá, convencendo os caras que manter sexo com uma vulnerável (fora de si) é considerado estupro.
D. ( ) Antes que alguém se aproxime, pega a garota, que nitidamente está fora de si, e a ajuda, levando-a pra casa?

Parabéns se você escolheu as alternativas C ou D. Sinaliza que você é uma pessoa do bem e que não está inserida no grupo que cultiva a "cultura do estupro".
Por que fiz esta analogia? Porque tenho visto uma certa dificuldade das pessoas demonstrarem algum gesto de compaixão por uma "garota da favela" ou que "costumava frequentar a comunidade" ou que "era viciada e metida com bandidos". Talvez, pensar numa menina que usou uma droga lícita (bebida alcoólica), servida em qualquer esquina, seja mais fácil invocar o sentimento de empatia dentro de si, do que pensar nela usando drogas ilegais.
Talvez, pensar que esta menina não estava numa favela, mas numa festa de universitários, te ajude a se aproximar mais da situação.
Talvez algo assim já tenha acontecido em muitas festinhas de universitários e não seja uma exclusividade dos marginalizados. Talvez as motivações que levam um grupo de traficantes e um grupo de universitários cometerem tamanha barbárie, sejam diferentes, mas o crime é o mesmo, a maldade é a mesma.
Talvez, até num caso semelhante, ocorrido numa universidade tratem a situação como "suposto estupro".
Duvida? Então olha esta matéria de 4 de abril de 2014, publicada no site Metro: